terça-feira, junho 22, 2004

Charles Caldwell, para relembrar sempre...

“Remember Me” é o mais recente álbum lançado pela Fat Possum Records, editora independente sediada no Mississipi que, desde há alguns anos a esta parte, tem descoberto nos cantos recônditos desse Estado “bluesmen” que mereciam ser ouvidos há largas décadas.
Este é o caso de Junior Kimbrough, considerado por muitos o melhor “bluesman” da segunda metade do século XX, que obrigou figuras como os Sonic Youth, os U2 ou os Rolling Stones a deslocarem-se até à sua “juke joint” com o único propósito de o verem actuar ao vivo. Outro exemplo é o de R.L Burnside, entregue também à obscuridade até começar a gravar para a editora em 1994. Junior faleceu em 1998 e Burnside, devido à idade, tem estado arredado dos concertos.
Entre vários “bluesmen”, estes eram os dois principais nomes da Fat Possum que, pelas razões mencionadas, necessitava agora de outro artista do mesmo calibre para gravar novos álbuns e dar concertos extensivamente (a esse respeito, Mathew Johnson, da Fat Possum, refere neste disco que “há dez ou 12 anos atrás, podia-se ir a uma cidade de 800 pessoas e encontrar pelo menos três velhotes que soubessem tocar guitarra. Agora é muito difícil encontrar alguém que toque sequer”).
Após largos meses de pesquisa pelo Mississipi, Johnson encontrou finalmente Charles Caldwell, que até aí tinha tocado apenas em festas, onde o seu pagamento era feito em bebida durante toda a noite. Essas noites foram pródigas em episódios bizarros para o bluesma: uma vez passou em imagens do noticiário da noite, para espanto da sua mulher. Noutra acordou numa cidade onde nunca tinha estado, com um novo fato, que aidna guardava. Encontrar este artista levantou as esperanças da editora. Afinal, o “bluesman” era um pródigo intérprete do blues do North Hill Country, no Mississipi, um estilo onde o que importa é mesmo o sentimento, e não as afinações ou a perfeição técnica.
Durante a gravação do disco, Caldwell soube que tinha cancro. Para o ajudar a suportar as dores que sentia, dedicava as noites a tocar no estúdio da Fat Possum, até que estivesse cansado o suficiente para conseguir dormir. Caldwell acabaria por falecer em Setembro de 2003. Para a posteridade deixou este álbum, o seu canto do cisne, cru como só o verdadeiro blues o é. Mas deixou também a certeza de que alguém se vai lembrar dele. Caldwell, que Johnson considerava “the next big thing”, é de fazer Clapton e congéneres borrarem-se de vergonha.

Charles Caldwell, "Remember Me", Fat Possum Records
8/10

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

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1:45 da manhã  

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